Represa de Guarapiranga: Fonte de água e vida
Professor
Eduardo Melander Filho (1)
Desde o dia
24.11.2014 que os Parques Lineares Barragem, Boi Mirim, Castelo, Herculano,
Nove de Julho, Praia do Sol, Prainha e São José estão sem vigilância por fim de
contrato com a empresa prestadora de serviços, repetindo uma situação que já
virou praxe (2).
Recentemente o
mesmo aconteceu com vários Parques Naturais Municipais da região de
Parelheiros, o que motivou uma presença maior da Guarda Civil Metropolitana a
fim de garantir segurança em condições muito precárias devido a inexistência de
efetivos suficientes.
Na ocasião, o
representante do MOGAVE no Conselho Gestor da APA Bororé-Colônia, juntamente
com outros conselheiros, manteve uma reunião com o recém empossado Secretário
da Secretaria do Verde e Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo, quando foi
entregue várias moções, dentre elas uma assinada pelos Conselhos Gestores das
APAs Bororé-Colônia e Capivari-Monos e Parques Lineares Castelo, Nove de Julho
e Jacques Cousteau, pedindo contratação emergencial de vigilância. O Secretário
respondeu que aquela situação era por culpa do mandato anterior daquela
Secretaria e que não faria contratação emergencial porque esse tipo de
procedimento poderia gerar corrupção (3).
Depois dessa
reunião com o Secretário ficamos na expectativa de que as coisas iriam se
modificar e que as próximas licitações seriam realizadas antes do vencimento
dos contratos com as prestadoras, para que as novas pudessem iniciar suas
atividades no dia seguinte ao vencimento do contrato anterior. Evidentemente isso não aconteceu, confirmando
o descaso para com a população que tem se transformado em norma naquela
Secretaria do Verde e Meio Ambiente mandato após mandato, Secretário após
Secretário.
A nova licitação
já foi realizada em 26.11.2014, mas a empresa vencedora só começará a atuar
dentro de vinte a trinta dias devido aos trâmites burocráticos, isso se não
houver alguma impugnação de alguma outra concorrente derrotada (4). Enquanto
isso a população freqüentadora desses parques fica à mercê dos acontecimentos e
totalmente desprotegida.
Os conselheiros
gestores desses parques que são ligados ao MOGAVE tomaram e estão tomando
algumas atitudes a respeito da questão (5). Por nossa sugestão, foi realizada
uma Reunião Extraordinária do Conselho Gestor do Parque Nove de Julho no dia
26.11.2014, onde a maioria absoluta dos conselheiros da sociedade civil e por
unanimidade (só havia um conselheiro do poder público) decidiu pelo fechamento
do parque e suspensão de todas as atividades, enquanto durasse essa situação de
ausência de vigilância (6). Sugerimos também uma Reunião Extraordinária do
Conselho Gestor do Parque Barragem no dia 30.11.2014, que não se realizou
porque, estranhamente, o único conselheiro presente foi o representante do
MOGAVE, além da administradora do parque (7). Estamos articulando uma Reunião
do Conselho Gestor do Parque Castelo (8).
No entanto,
passada uma semana desde a licitação e decisão de fechamento, o Parque Nove de
Julho continua funcionando “normalmente” por decisão da Secretaria do Verde,
num total descaso à decisão do Conselho Gestor (9) e irresponsabilidade para
com os freqüentadores que correm perigo real, principalmente mulheres e
crianças, que podem ser atacadas de surpresa e arrastadas para trás de qualquer
moita ou mato alto (10).
O pior é que a
população não foi avisada da falta de segurança, o que a torna presa mais fácil
(11).
Apesar do Parque
Nove de Julho, pela quantidade de mata, apresentar uma situação de alto risco
para os freqüentadores, os outros parques também apresentam em maior ou menor
grau, principalmente os que não têm conselhos gestores, como é o caso do Parque
São José, que nas duas últimas eleições não apresentou quórum porque o primeiro
inscrito inexplicavelmente “retirou sua candidatura”, e o Parque Praia do Sol,
que nos finais de semana reúne milhares de freqüentadores e nunca teve eleições
para o conselho gestor, indicando falta de vontade política da Secretaria do
Verde e Meio Ambiente, pois, evidentemente, conselhos gestores “incomodam e são
inconvenientes” aos interesses dos dirigentes e gestores de plantão.
Pedimos máxima
divulgação.
A população deve
ser informada para poder se defender.
REFERÊNCIAS (POSFÁCIO):
1- Esse artigo
foi publicado no Informe do MOGAVE nº 146 em 03.12.2014. A data de sua
publicação no Blog do MOGAVE com essas referências “posfácio” é de 09.06.2015.
2- Somente em
março de 2015 a situação foi parcialmente resolvida nos parques da orla da
Represa Guarapiranga. Importante citar que a situação de falta de vigilância
patrimonial e também de equipe de manejo atingiu praticamente todos os parques municipais
de São Paulo, de todas as categorias, por meses seguidos.
3- No final as
contratações foram feitas por regime de “ATA”, coisa que a nosso ver não é
muito diferente de contrato emergencial. As outras Moções que apresentamos
foram referentes a vários grupos que repudiam a construção de um aeroporto
privado em Parelheiros e também sobre a poluição e proliferação de mosquitos na
Guarapiranga.
(4)- Houve
realmente impugnação, fazendo com que a situação se prolongasse.
(5)- O MOGAVE
(Associação Movimento Garça Vermelha) possui vários filiados que são
Conselheiros Gestores pela Sociedade Civil: Um (1) no Parque Barragem; dois (2)
no Parque Castelo; três (3) no Parque Jacques Cousteau e cinco (5) no Parque
Nove de Julho [são nove (9) os conselheiros pela sociedade civil em cada
parque].
(6)- A decisão
do Conselho Gestor foi motivada pelo fato de que se algo acontecesse (como
aconteceu) dentro do parque numa situação de ausência de proteção aos
freqüentadores, ele (o Conselho) poderia ser acusado de conivência e
co-responsabilidade, respondendo criminalmente juntamente com o responsável
direto (o administrador do parque), a Secretaria do Verde e Meio Ambiente e a
própria Prefeitura Municipal de São Paulo.
Além disso,
diante da possibilidade de que a Secretaria do Verde e Meio Ambiente não
levasse em consideração a decisão do Conselho, decidiu-se também pela suspensão
de todas as atividades do próprio Conselho até que a situação se sanasse.
(7)- O Conselho
Gestor do Parque Barragem era recém empossado e sob nova lei, que reduziu a
quantidade de conselheiros pela sociedade civil de nove (9) para quatro (4),
com quantidade equivalente de representantes do poder público. Além disso, o
Regimento Interno do Conselho Gestor do Barragem exige quórum de 50% mais um,
impossibilitando que qualquer decisão por voto dos conselheiros seja tomada,
principalmente se houver desinteresse do poder público pela aprovação de uma
proposta.
No caso dos
Parques Castelo e Nove de Julho, cujo Regimento Interno é o mesmo (mas nunca
foi publicado no Diário Oficial por falta de vontade política da Secretaria do
Verde e Meio Ambiente), a votação se dá com qualquer número de conselheiros
presentes.
Mesmo assim, com
todo o desinteresse do poder público que manda poucos de seus conselheiros
comparecerem às reuniões dos conselhos, todas as votações nos Parques Castelo,
Jacques Cousteau e Nove de Julho foram aprovadas por mais de 50% dos
conselheiros.
(8)- Os
Conselhos Gestores dos Parques Castelo e Jacques Cousteau também aprovaram o
fechamento dos parques enquanto a situação perdurasse. Não foram ouvidos
também.
(9)- Todos os
parques municipais de São Paulo continuaram funcionando normalmente como se
nada estivesse acontecendo, passando por cima de decisões de diversos conselhos
gestores no sentido do fechamento temporário dos parques. No caso do Parque
Nove de Julho, o próprio administrador convocou seguidamente reuniões do
Conselho Gestor, passando por cima da decisão tomada em reunião realizada uma
semana antes, de suspender também as atividades do Conselho. No entanto, os conselheiros
ligados ao MOGAVE não compareceram durante três meses nessas reuniões convocadas
ilegalmente, preservando assim a autonomia política do Conselho Gestor de
decidir sobre seu próprio destino e funcionamento interno, independente da
vontade dos gestores públicos.
(10)- Recebemos
denúncias de assaltos, intimidações às mulheres, crianças e aos idosos,
ocupações ilegais, destruição de equipamentos públicos e do meio ambiente e até
de crimes mais graves (muitas pessoas não registraram queixas). Bebidas e drogas
correram soltas. Num dos casos mais graves, uma administradora de um parque
linear da região que se prontificou a abrir e fechar vários parques (não havia
funcionários para essa tarefa) mesmo com recomendação contrária de diversos
conselhos gestores e sabendo do risco que os freqüentadores seriam expostos,
foi vitimada ela mesma por um exibicionista que mostrava as partes íntimas
(provavelmente um “anão pernóstico”). A funcionária literalmente saiu correndo
e não mais voltou. Sentiu na própria carne que o perigo era real e não apenas
hipotético.
(11)- A
Secretaria do Verde e Meio Ambiente omitiu da população freqüentadora dos
parques essa situação de abandono, principalmente no tocante à falta de
segurança. Não publicamos um alerta geral na época por receio de que a nossa
denúncia pública funcionasse como um chamativo aos criminosos de todas as espécies.
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