MOGAVE Receberá Salva de Prata do Prêmio Dorothy Stang



Eduardo Melander Filho

A Câmara Municipal de São Paulo aprovou em 16/12/2011, em sua última Sessão do ano, dentre outros, O Decreto Legislativo Nº 99, originário do Projeto de Decreto Legislativo Nº 0096/11, que concede a Salva de Prata do Prêmio Dorothy Stang de Humanidade, Tecnologia e Natureza, categoria Natureza, à Associação Movimento Garça Vermelha - MOGAVE - pela sua atuação em defesa do Meio Ambiente.

O projeto foi apresentado pela Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente da Câmara Municipal em 08/11/2011 e encontrava-se em poder, para aprovação, da Comissão de Constituição, Justiça e Legislação Participativa desde o dia 15/11/2011, sendo aprovado pela mesma em 14/12/2011. No dia 15/12/2011 foi a vez da Comissão de Educação, Cultura de Educação, Cultura e Esportes aprovar, para, em seguida, passar à Plenária da Câmara Municipal no dia 16/12/2011.

O recebimento do Prêmio é mais um indicativo de que a Diretoria e Conselho Fiscal do MOGAVE, em sua atual composição, estão corretos em sua política intransigente em defesa do meio ambiente, que vê o homem como componente essencial, considerando que a relação homem/natureza é dialética em busca da superação.

Orgulho maior temos todos por saber que a personagem que dá seu nome ao Prêmio é uma heroína naturalizada brasileira que deu sua vida pelo meio ambiente e pelos sem terra, assassinada que foi a mando de madeireiros.

“Irmã Dorothy representa para todos, que militam na defesa dos Direitos Humanos, o exemplo de como podemos e devemos ser” (Mary Cohen) (1). “Dorothy foi uma guerrilheira da paz. (...) Não se deve lutar pela metade. Foi esta a mensagem que ela seguiu e que a fez perder a vida” (Thomaz A. Mitschein) (1). “Uma força de mulher comprometida com a justiça, com as causas sociais, com o meio ambiente e com um desenvolvimento responsável” (Toninha) (1). Esses são alguns comentários de pessoas que conheceram pessoalmente Irmã Dorothy Mãe Stang e foram testemunhas de seu trabalho.

O texto do decreto apresentado é o seguinte:

CÂMARA MUNICIPAL

DECRETO LEGISLATIVO Nº 99, DE 16 DE DEZEMBRO DE 2011

DOC-SP de 22/12/2011 (nº 239, pág. 135)

Dispõe sobre a concessão e entrega do Prêmio Dorothy Stang de Humanidade, Tecnologia e Natureza, na categoria Natureza, à Associação Movimento Garça Vermelha, e dá outras providências.

(Projeto de Decreto Legislativo nº 96/11)

(Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente)

José Police Neto, Presidente da Câmara Municipal de São Paulo, faz saber que a Câmara Municipal de São Paulo decreta e promulga o seguinte Decreto Legislativo:

Art. 1º - Fica concedido o Prêmio Dorothy Stang, na categoria Natureza, à Associação Movimento Garça Vermelha, nos termos da Resolução nº 4, de 26 de dezembro de 2006.

Art. 2º - A entrega do prêmio, na forma de honraria Salva de Prata, será efetuada em Sessão Solene, a ser convocada pelo Presidente da Câmara Municipal de São Paulo.

Art. 3º - As despesas com a execução do presente Decreto Legislativo correrão por conta das dotações orçamentárias próprias, suplementadas se necessário.

Art. 4º - Este Decreto Legislativo entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Câmara Municipal de São Paulo, 19 de dezembro de 2011.

JOSÉ POLICE NETO – Presidente

Publicado na Secretaria Geral Parlamentar da Câmara Municipal de São Paulo, em 19 de dezembro de 2011.

ADELA DUARTE ALVAREZ - Secretária Geral Parlamentar

A justificativa apresentada é a seguinte:

PUBLICADO DOC 10/11/2011, PÁG 260

JUSTIFICATIVA

PDL 0096/2011

O presente projeto de decreto legislativo dispõe sobre a concessão do prêmio Dorothy Stang, na categoria natureza, à Associação Movimento Garça Vermelha.

Em 1º de dezembro de 2009 o Movimento Garça Vermelha surgiu através da união entre os moradores do Jardim Represa, Jardim Pombal, Jardim Sertãozinho, Vila Represa e Jardim das Praias. A primeira conquista deste movimento se deve ao fato do Movimento ter impedido a construção de uma via sob a represa Guarapiranga através de um abaixo-assinado com 741 assinaturas colhidas durante dois dias e posteriores diálogos com o Subprefeito de Capela do Socorro. Neste mesmo período o grupo envidou esforços para que as irregularidades ambientais constatadas durante a construção do Parque Nove de Julho fossem sanadas; uma petição endereçada ao Ministério Público do Estado de São Paulo resultou na instauração de um Inquérito Civil Público que, posteriormente, converteu-se num Processo Público Civil no Tribunal de Justiça de São Paulo que tramita até a presente data.

A efetiva constituição do Movimento ocorreu no dia 15 de maio de 2010 quando os respectivos membros decidiram fundar a Associação Movimento Garça Vermelha, cujo compromisso reserva-se à defesa e preservação do meio ambiente, promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia, realização e estímulo a estudos para o desenvolvimento de tecnologias alternativas, divulgação de conhecimento técnico atinente às atividades da associação e proteção da qualidade das águas e das matas ciliares que as protegem.

O MOGAV enfatiza a participação e organização nos eventos e conselhos atinentes à seara ambiental. Diversas foram as ocasiões que o grupo registrou sua participação, dentre elas podemos citar o "Abraço de Guarapiranga", "Conselho Regional de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Culpara de Paz da Capela do Socorro" e "Agenda 21". A associação tem se dedicado profundamente no que se refere à implantação dos "Conselhos Gestores dos Parques: Castelo, São José, Nove de Julho e Guanhembí".

A militância do Movimento Garça Vermelha vem sendo divulgada por diversos veículos de informação, inclusive em discursos apresentados na Câmara Municipal de São Paulo e até mesmo no Congresso Nacional.

O Movimento Garça Vermelha dedica-se à luta pela preservação ambiental da Cidade de São Paulo, sendo justa a homenagem que lhe será concedida por esta Casa por meio do Prêmio Dorothy Stang.

Foram também agraciados com o Prêmio Dorothy Stang: categoria Humanidade- COMITÊ DA CIDADE DE SÃO PAULO DO MOVIMENTO NACIONAL DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS e categoria Tecnologia- SENHOR DAVID CARLOS ANTONIO.

O MOGAVE parabeniza e agradece a todos que, de uma forma ou de outra, participaram (e/ou apoiaram) das atividades da nossa associação, contribuindo assim para que recebêssemos o Prêmio Dorothy Stang.

A Salva de Prata será entregue em Sessão Solene na Câmara Municipal de São Paulo em data a ser marcada.


SOBRE A IRMÃ DOROTHY (2)

Dorothy Mae Stang, conhecida como Irmã Dorothy foi uma freira norte-americana naturalizada brasileira (2).

Pertencia às Irmãs de Nossa Senhora de Namur, congregação religiosa fundada em 1804 por Santa Julie Billiart (1751-1816) e Françoise Blin de Bourdon (1756-1838). Esta congregação católica internacional reúne mais de duas mil mulheres que realizam trabalho pastoral nos cinco continentes (2).

Ingressou na vida religiosa 1948, emitiu seus votos perpétuos – pobreza, castidade e obediência – em 1956. De 1951 a 1966 foi professora em escolas da congregação: St. Victor School (Calumet City, Illinois), St. Alexander School (Villa Park, Illinois) e Most Holy Trinity School (Phoenix, Arizona) (2).

Em 1966 iniciou seu ministério no Brasil, na cidade de Coroatá, no Estado do Maranhão. Irmã Dorothy estava presente na Amazônia desde a década de setenta junto aos trabalhadores rurais da Região do Xingu. Sua atividade pastoral e missionária buscava a geração de emprego e renda com projetos de reflorestamento em áreas degradadas, junto aos trabalhadores rurais da Transamazônia. Seu trabalho focava-se também na minimização dos conflitos fundiários na região. Atuou ativamente nos movimentos sociais no Pará (2).

A sua participação em projetos de desenvolvimento sustentável ultrapassou as fronteiras da pequena Vila de Sucupira, no município de Anapu, no Estado do Pará, a 500 quilômetros de Belém do Pará, ganhando reconhecimento nacional e internacional (2).

A religiosa participava da Comissão Pastoral da Terra (CPT) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) desde a sua fundação e acompanhou com determinação e solidariedade a vida e a luta dos trabalhadores do campo, sobretudo na região da Transamazônica, no Pará. Defensora de uma reforma agrária justa e conseqüente, Irmã Dorothy mantinha intensa agenda de diálogo com lideranças camponesas, políticas e religiosas, na busca de soluções duradouras para os conflitos relacionados à posse e à exploração da terra na Região Amazônica (2).

Dentre suas inúmeras iniciativas em favor dos mais empobrecidos, Irmã Dorothy ajudou a fundar a primeira escola de formação de professores na rodovia Transamazônica, que corta ao meio a pequena Anapu. Era a Escola Brasil Grande (2).

Irmã Dorothy recebeu diversas ameaças de morte, sem deixar intimidar-se. Pouco antes de ser assassinada declarou: "Não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar" (2).

Ainda em 2004 recebeu premiação da Ordem dos Advogados do Brasil (seção Pará) pela sua luta em defesa dos direitos humanos (2).


FALECIMENTO (2)

A Irmã Dorothy Stang foi assassinada, com sete tiros, aos 73 anos de idade, no dia 12 de fevereiro de 2005, às sete horas e trinta minutos da manhã, em uma estrada de terra de difícil acesso, a 53 quilômetros da sede do município de Anapu, no Estado do Pará, Brasil (2).

Segundo uma testemunha, antes de receber os disparos que lhe ceifaram a vida, ao ser indagada se estava armada, Ir. Dorothy afirmou "eis a minha arma!" e mostrou a Bíblia Sagrada. Leu ainda alguns trechos das Sagradas Escrituras para aquele que logo em seguida lhe balearia (2).

No cenário dos conflitos agrários no Brasil, seu nome associa-se aos de tantos outros homens, mulheres e crianças que morreram e ainda morrem sem ter seus direitos respeitados (2).

O corpo da missionária está enterrado em Anapu, Pará, Brasil, onde recebeu e recebe as homenagens de tantos que nela reconhecem as virtudes heróicas da matrona cristã (2).

MENSAGENS DE PARABÉNS

Recebemos as seguintes mensagens:

- (...) parabéns ao Mogave pelo prêmio e pelo trabalho desenvolvido.

Um abraço a todos.

Vereador Arselino Tatto

- Caros amigos

Meus parabéns pela justa homenagem e reconhecimento da vossa militância expresso na Salva de Prata Dorothy Stang. Independentemente de algumas divergências, nossos objetivos são comuns e o crescimento e fortalecimento de uma entidade ambientalista séria como a Garça Vermelha só pode ser motivo de alegria para quem milita pelo meio ambiente. As divergências, quando encaradas com espírito aberto e construtivo, levam ao aperfeiçoamento de todos.

Abraços e um feliz ano novo com muitas realizações

Valdir Ferreira (Ex Subprefeito da Capela do Socorro).

- A Equipe do Jornal Em SINTONIA unindo elos (...) deseja aos amigos do Movimento Garça Vermelha sucesso em seu excelente trabalho pela causa ambiental.

DEBORAH

- Parabéns Sr EDUARDO MELANDER!!!
Tenho certeza que está muito feliz e espero que esteja!
Um grande abraço e PARABÉNS!!!

Rodrigo Caetano de Souza (cirurgião do tórax).

- De verdade, estou orgulhosa (...) e tenho certeza que esse projeto não poderia estar em melhores mãos.

Vanda Sanae Hamanaka Serizawa (crítica de cinema).

- Melander,

Agradecemos (...) e, ao mesmo tempo, parabenizar à Associação Movimento Garça Vermelha - MOGAVE, que você preside, pelo merecido recebimento da Salva de Prata do Prêmio Dorothy Stang de Humanidade, Tecnologia e Natureza, pela atuação em defesa do Meio Ambiente.

José Wilson (advogado) e Elizabeth de Lima Costa

- (...) estou de boca aberta.
Antes de mais nada deixa eu dizer que, depois de ler tudo, acho essa homenagem mais do que válida e merecedora para com essa associação. Meus parabéns a todos os participantes.
Agora deixa eu te dizer uma coisinha pessoal: (nós) sempre implicamos com o diabo daquela árvore de natal daí da kennedy. Lugar mais idiota para fazer festa, bem ao lado da água que consumimos e quando não é ela, são essas competições que fazem ali. (...) poluição, inclusive a visual e sonora.
(...) mais uma vez PARABÈNS.

Geni Macedo (empresária).

- Fiquei muito feliz com a premiação!

Nanci Melo (funcionária aposentada do Banco do Brasil)

- Muito orgulho em fazer parte desse time de guerreiros!!!

Júnior Warne (Vice Presidente Administrativo Adjunto do MOGAVE)


REFERÊNCIAS

(1) COMITE DOROTHY EM DEFESA DA VIDA. Defesa do meio ambiente da Amazônia. Disponível em: . Acesso em: 04 jan 2012.

(2) CANÇÃO NOVA NOTÍCIAS. Divulgação de notícias. Disponível em:
. Acesso em: 04 jan 2012.

Observação: Ambos os sites podem ser acessados procurando na coluna direita desse blog o título “Sites de interesse do Movimento Garça Vermelha”.

Entrevista de Dino e Melander na TV Interlagos (2010) - Parte 1

Junior Warne, Mauro Scarpinatti e Dino Mottinelli no Abraço Guarapiranga 2011

Transcrição: Eduardo Melander Filho

Publicamos, abaixo, a primeira parte da transcrição da entrevista que Dino Mottinelli e Eduardo Melander Filho, Vice Presidente Financeiro e Diretor Presidente da Associação Movimento Garça Vermelha – MOGAVE, respectivamente, concederam à TV Interlagos em junho de 2010, no programa do Abraão.

As gravações foram realizadas nos estúdios daquela emissora, com duração de uma hora total de entrevista, dividida em três blocos de vinte minutos cada, com intervalos de propaganda entre eles. A entrevista foi levada ao ar pela emissora cinco dias depois da gravação, via internet.

Apenas o primeiro bloco se encontra postado na internet em duas gravações de dez minutos cada. Para acessá-las, procurar na coluna direita desse blog o título “Vídeos de nosso interesse” e clicar nos subtítulos: “TVInterlagos – Entrevista com Dino e Melander do Garça Vermelha no programa do Abraão – Bloco 1 – Parte 1” e “TVInterlagos – Entrevista com Dino e Melander do Garça Vermelha no programa do Abraão – Bloco 1 – Parte 2”.

Nessa primeira parte da entrevista incluímos a transcrição de todo o bloco 1 e metade do bloco dois, o equivalente a trinta minutos de gravação. Quando publicarmos a segunda parte incluiremos a parte final do bloco 2 e a totalidade do bloco 3.

Tomamos a liberdade de realizar algumas correções de todas as ordens na transcrição, com finalidades estéticas e de concordância. Adicionamos também entre parênteses, idéias que se não incluídas não garantiriam o entendimento da frase. Mas, no geral, tentamos reproduzir os termos exatamente como enunciados.

Vamos, então, a entrevista.

-.-.-.


- ABRAÃO – Olá telespectador da TV Interlagos. Está começando agora o programa do Abraão. Seu programa. E hoje estou tendo a honra de receber no estúdio da TV para o programa do Abraão, quem está participando conosco aqui é o Eduardo Melander Filho, Presidente da ONG Movimento Garça Vermelha e também o Vice Presidente Dino Mottinelli. Tudo bem seu Dino¿

- DINO MOTTINELLI – Tudo bem, tudo em ordem.

- A – Como é que você está, jóia¿

- D – Sim.

- A - E você Eduardo, tudo bom¿

- EDUARDO MELANDER FILHO – Tudo bem.

- A – Eduardo é Presidente do Garça Vermelha. Não é Eduardo, é isso¿

- E – Sim.

- A – É o Presidente. Bom. O Garça Vermelha é uma associação, é uma Ong, o que é o Garça Vermelha seu Eduardo¿

- E – O Garça Vermelha foi um movimento que surgiu nas imediações do Jd. Sertãozinho em função de questões específicas locais, em relação às obras do Parque Nove de Julho. Gradativamente ele foi passando à Associação. Nós realizamos um Encontro no dia quinze de maio do mês passado (15.05.2010), portanto, quando foi decidida a fundação, a transformação do movimento numa Associação legal, portanto uma Ong. Nós estamos dando entrada na papelada.

- A – Vai virar uma Ong mesmo!

- E – Exatamente. Uma Ong com Diretoria, Conselho Fiscal, etc. e tal, mais Coordenadoria de trabalhos específicos. Aquilo que era movimento local, específico em relação do Parque Nove de Julho, reivindicações específicas portanto, bem localizadas, agora passam a ser muito mais amplas. A Associação Movimento Garça Vermelha pretende agora atuar tanto na Represa Billings quanto Guarapiranga, também (n)as águas que abastecem esses dois reservatórios e as que (as) interligam também. Ou seja, todo o Sistema Billings-Guarapiranga e as conseqüências todas que se têm nos seus entornos. Questão do desmatamento da mata ciliar, a questão da construção de rodovias, enfim, ocupação. É isso. No momento, certo (¿), nós ampliamos bastante nosso campo de atuação.

- A – Bom, correto. Esse é o Eduardo Melander Filho, Presidente do Movimento Garça Vermelha, que agora já está caminhando para uma Ong Garça Vermelha. Tive a oportunidade de conhecê-lo agora e aqui. Do outro lado está o Dino Mottinelli, que é o Vice Presidente aí do Movimento Garça Vermelha. Tive a oportunidade de conhecer o Dino lá no Abraço do Guarapiranga. Não é mesmo Dino¿

- D – (N)O dia do Abraço o Movimento Garça Vermelha ajudou, um pouquinho, a organizar o Abraço desse ano.

- A – Correto. A função de vocês no Abraço Guarapiranga foi realmente organizar, o movimento!

- D – É. Organizar e trabalhamos um pouco na divulgação do Abraço.

- A - É o primeiro ano que o Garça Vermelha participa, em 2010, ou vocês já vêm...

- D – Não, não...

- A - ...trabalhando há muito tempo com isso¿

- D – Não, não. Foi o primeiro ano. O primeiro ano que nos envolvemos com o Abraço.

- A – Mas vocês já participaram do Abraço antes do movimento surgir!

- D – Como morador, como morador. O Abraço desse ano foi o 5º Abraço Guarapiranga. Os outros anos eu participei, outros amigos nossos participaram, mas sem se envolver na organização.

- A – Correto. Qual o levantamento que vocês fizeram da participação do público, do povo, dos moradores da região do Guarapiranga nesse último Abraço. É o 7º, não é¿

- D – É o 5º.

- A – É o 5º!

- D – Esse foi o 5º Abraço.

- A – 5º Abraço Guarapiranga!

- D – A participação vem aumentando bastante. A função do Abraço é a conscientização dos habitantes da cidade de São Paulo em geral, não só dos vizinhos da represa, mas habitante em geral da cidade. São os problemas que a Represa vem enfrentando. A Guarapiranga tem cento e seis anos, acho. É. São cento e seis anos e ela foi criada para armazenar duzentos milhões de metros cúbicos de água e hoje ela armazena 50% disso. A Represa está completamente assoreada, degradada. Tem uma série de problemas que não...

- A – Como aconteceu essa degradação seu Dino¿ Por que aconteceu, quem deixou¿ Ninguém viu¿

- D – Ver acho que todo mundo viu. O problema de falta, às vezes, de vontade política, falta de uma atitude mais eficiente. O pessoal fala muito, mas a gente não vê o resultado da coisa.

- A – Falam muito, mas não praticam!

- D – É. Na prática, efetivamente, você não vê muito resultado não. O problema é complexo. É um problema social... a habitação... cresceu muito invasões. A habitação, a falta de critério de muito...

- A – Correto.

- D - ...acompanhamento. O assoreamento na Represa é um caso muito grave.

- A – Bom. O Sr. participou aquele dia do Abraço do Guarapiranga. Quantas pessoas participaram no dia lá¿ O Sr. tem esse levantamento¿

- D – Não, não tenho levantamento.

- A – Vai ser feito um levantamento¿

- D – Não (sic!). Eu prefiro não te dar números agora. Nós sabemos que tinha mais gente que do ano passado, mas, porque inclusive sábado agora, nós vamos ter uma reunião de avaliação do que foi o Abraço esse ano. Eu não sei te dizer agora num chute meio...

- A – E esse Abraço, em termos de resultado, qual é o resultado para a população, esse Abraço¿ O Abraço em si¿

- D – É uma conscientização do povo, é uma conscientização com as autoridades, de ver que nós estamos em cima, estamos acompanhando.

- A – Correto.

- D – E a gente tem sentido que cada vez mais é despertada a atenção do pessoal.

- A – O interesse da população!

- D – Exatamente, pelo problema. É um trabalho basicamente de conscientização.

- A – O Garça Vermelha estava neste ano presente, não é, Dino¿

- D – Exatamente.

- A - Estava presente. Vamos agora voltar com a palavra com o Presidente Eduardo Melander Filho, Presidente do Garça Vermelha. O Sr. Eduardo aí é o seguinte. Hoje se vê aí o seu Vice Presidente, o Dino, falava agora há pouco a respeito das invasões, o pessoal todo morando próximo da represa. Nós temos aí muitos comércios que estavam às margens da Represa. Graças ao Prefeito Gilberto Kassab isso já mudou, não é¿ Parece que tem coragem realmente de chegar e “não”. A Represa agora vai virar um parque, agora vai virar um parque... Foi o atual Prefeito Gilberto Kassab, não é isso¿

- E – Bem, esse projeto de parques lineares é um projeto muito antigo, vem desde 1985...

- A – Quem é o autor do projeto¿

- E – Vários. São vários. Não é um governo específico, passando inclusive pelo governo...

- A – São vários¿

- E – Exatamente...

- A – Porque que ninguém teve a coragem como o Gilberto Kassab de implantar isso aí¿

- E – Houve tentativas anteriores, mas me parece o seguinte: só a partir, realmente, de uma grande reunião de Ongs que foi efetivada, um congresso, que foi efetivada lá no Solo Sagrado...

- A – Certo.

- E – A partir daí é que houve, realmente, vamos dizer assim, um aval político, assim, ambiental, das Ongs...

- A – Certo.

- E - ...para que isso fosse feito. A idéia, a idéia central seria de revitalizar a Represa, recuperar a Represa da deterioração e cercar também contra invasões. E é o que está acontecendo, mais ou menos, na orla da Represa, aqui na Av. Kennedy. No entanto, no entanto, tem lugares que isso não se justifica.

- A – Correto.

- E – Quanto à questão de invasões, pelo que me lembro, eu sou morador aqui muito antigo da região...

- A – O Sr. mora na região há quantos anos¿

- E – Bem. Moro... eu nasci em 1951...

- A - Nasceu aqui na região¿

- E – Não nasci aqui propriamente na região. Nasci em Santo Amaro...

- A – Certo.

- E – Eu sou da Rua Anchieta. Fui para o Paraná e voltei em 52. Então...

- A – Paraná é minha terra, heim. Eu sou do Paraná.

- E – Pois é...

- A – Por isso sou moreninho assim.

- E – Pois é. De que cidade você é¿

- A – Paranavaí. Nasci em Paranavaí.

- D – Eu conheci Paranavaí.

- E – Eu morei em Jundiaí do Sul, perto de Santo Antônio da Platina, Ribeirão do Pinhal...

- A – Legal.

- E – Bem...

- A – Grande Estado, Paraná, grande Estado.

- E – Grande Estado. Moro aqui...

- A – Desde pequeno¿

- E – Desde pequeno. Esporadicamente voltava para o Paraná, mas eu moro aqui na região há muito tempo. Essa questão da invasão na orla da Represa é principalmente lá na região da Billings...

- A – Não, mas existem...

- E – Guarapiranga...

- A - ...os comerciantes, não é¿

- E – Sim, sim...

- A – Eu entrevistei uma vez, daqui a pouco o Sr. completa, o Administrador da Subprefeitura o Leonide Tatto da época da Luiza Erundina, num programa de rádio. Ele falou: não, nós temos que... a questão da invasão na beira das represas, o negócio todo, tal, tal, tal. Eu falei não, e as invasões da Represa Guarapiranga, o dos comerciantes¿ Ele falou: Não, os comerciantes são, é, como foi que ele disse... ele falou assim: os comerciantes eram... ele(s) sabia(m) como fazer, não jogar lixo na beira da Represa e os moradores jogavam o lixo na beira da Represa. Não é¿ Justificou o seguinte: vamos tirar o pessoal da beira da Represa Billings, mas vamos deixar os comerciantes invasores na beira da Represa Guarapiranga. Não é¿ E o Gilberto Kassab atual Prefeito mudou a situação. Aqueles comerciantes que estavam invadindo a beira da Represa foram retirados. Acho que o Vice Presidente que falar alguma coisa!

- D – Não, não. Essa parte de invasão da Guarapiranga se deu um pouco mais do lado do Embu Guassú e pro lado do Jd. Ângela.

- A – Isso em termos de moradores, não é¿

- D – Exatamente.

- A – Residência.

- D – Exatamente. Os comerciantes, a impressão que eu tenho, os comerciantes que ficaram aqui na orla do lado de cá, na Robert Kennedy, Cidade Dutra, nesse pedaço, que acho que é isso, de certa forma, você estava querendo dizer...

- A – Correto.

- D - ...que até protegem um pouco a beira da Represa, sabe...

- A – Protegem de quê¿

- D - ...de invasão, favelas, desse tipo de coisa...

- A – Mas eles...

- D – É mais fácil, às vezes, você mexer com alguém que tenha um CNPJ, que é uma firma, poder público consegue chegar do que...

- A – Isso é mais fácil...

- D - ...do que loteamento irregular.

- A – Acho que juridicamente, não é¿

- D – Exatamente...

- A – A retirada acho que juridicamente é...

- E – É muito mais difícil você enfrentar, por exemplo, uma invasão de moradores...

- D – É.

- E – Retirar crianças.

- D – Sabe, retirar alguém que tem CNPJ, que está estabelecido legalmente pagando imposto já é uma briga. Agora você mexer com assentamento popular, com uma invasão nesse nível é bem mais complicado.

- E – Quanto aos comerciantes, aqui na beira da Represa, na Av. Robert Kennedy...

- A – Correto.

- E - ...todos aqueles comerciantes (grande parte) estavam por concessão, em regime de comodato, como alguns clubes também estão...

- A – Todos os comerciantes daquela orla¿

- E – Sim, de uma maneira ou de outra. Um ou outro não são...

- A – Em regime de comodato!

- E – Sim. Os grandes comerciantes, por exemplo, sim. Eles não invadiram lá à toa. Quer dizer, havia antigamente, o que hoje é da EMAI, toda essa orla da Represa é responsabilidade dela. Houve um acordo recente e passaram essas áreas de APP, áreas de preservação permanente, no caso...

- A – Correto.

- E - ...de passar agora a concessão para a Prefeitura. E daí que a Prefeitura vem agora com essa política de fazer parques lineares, etc.e tal. Digo e repito: parques lineares em lugares degradados funcionam, mas tem lugares que não estão degradados que, pelo contrário, vai trazer degradação. É o caso, por exemplo, do Parque Nove de Julho, uma área que era totalmente preservada, e estavam querendo inclusive construir uma rua dentro de área de preservação permanente. Isso já conseguimos reverter através de negociação com a Subprefeitura. Mas é isso. Então, quer dizer, as coisas não são... Por exemplo: esse regime de comodato pegava não apenas comércio, como os clubes, que tem até hoje, alguns clubes muito antigos, mas também escolas particulares e que, com o correr do tempo, muitos deles conseguiram, não se sabe como, conseguiram tirar escrituras definitivas. Veja bem, existem escrituras definitivas dentro de áreas de preservação permanente. Agora, quando começou isso¿ Isso vem de muito tempo, muito tempo. Eu me lembro, há muitos anos atrás, que tinha, não vou citar nomes nem nada, mas tinham candidatos, políticos, que incentivavam a população invadir determinadas áreas que pertenciam ao Estado ou a Prefeitura. Como uma troca política, vamos dizer assim, em relação ao voto...

- A – Trocando votos.

- E – Então. Isso aconteceu.

- A – Comprando votos.

- E – Pois é, exatamente. E aí, quer dizer, os problemas vão ficando para os governos posteriores e é isso que está acontecendo.

- A – Bom. O que o Sr. quer dizer que as terras em volta da Represa Guarapiranga onde estão instalados os comércios está tudo em região... são terras devolutas¿

- E – Hum...

- A – São devolutas!

- E – Hum... Não, não são devolutas. Devoluta é outra coisa. São terras...

A – São comodatos!

- E – Sim, comodatos. Porque veja bem: áreas de APP pertencem a quem¿ Pertencem ao Estado.

- A – Correto.

- E – Não são propriedade privada. Só podem ser utilizados em regime de comodato ou invadindo. Ou um ou outro.

- A – Correto.

- E – O que eu digo é o seguinte: a maioria dos grandes comerciantes recebeu há alguns anos atrás o comodato e que agora a Prefeitura retirou essa vantagem que eles tinham e também estão desapropriando. É isso que está acontecendo.

- A – Está certo. Estou conversando aqui com Eduardo Melander Filho que é Presidente do Movimento Garça Vermelha e o Dino Mottinelli que é Vice Presidente do Garça Vermelha. Estamos falando sobre o meio ambiente. O Garça Vermelha tem uma bandeira que é “em defesa das águas da Represa Guarapiranga e dos habitantes humanos, animais e vegetais de seu entorno”. Essa é a bandeira do Movimento Garça Vermelha. Você assiste o programa do Abraão todas às sextas feiras. Eu tenho um encontro aí com Renato Torquato que é da Universidade Anhembi Morumbi. Um programa voltado ao comércio, voltado ao empresarial, à classe empresarial. Você: é importante assistir a esse programa porque nesse programa você, aliás, não tem, não é uma entrevista, é uma consultoria. O programa do Abraão com o nosso amigo Torquato da Universidade Anhembi Morumbi, vai ao ar todas as sextas feiras e reprise na segunda feira às 14h00. Você também não pode perder aí o programa Repórter Interlagos que é ao vivo e vai ao ar segunda a sexta apresentado por mim Abraão e por José Luiz Borsatto das 10h00 às 11h00 da manhã. Eu vou pedir um breve intervalo. A gente volta aí para o segundo bloco desse programa, conversando com o Presidente e o Vice Presidente do Movimento Garça Vermelha. Voltaremos já já.

INTERVALO

- A – Olá telespectadores, estamos de volta e hoje estou conversando com Eduardo Melander Filho, Presidente do Movimento Garça Vermelha, região de Interlagos, São Paulo, capital, lembrando para você que é de outro país, São Paulo está no sul das Américas, do Sul. Estamos na América Latina. E o Dino Mottinelli é o Vice Presidente do Garça Vermelha. Estamos falando um pouco sobre meio ambiente, proteção do meio ambiente. A bandeira do Garça Vermelha é a seguinte: “Em defesa das águas da Represa Guarapiranga e os habitantes humanos, animais e vegetais de seu entorno”. Vamos falar sobre a bandeira aí, não é Dino (¿), que vocês pegaram aí, a bandeira. Por que defender só os habitantes humanos, animais e vegetais em torno da Represa Guarapiranga, já que a região, não é (¿), da Guarapiranga, tem represa por todo lado ¿ Para esquerda, para direita você tem represa. Tem a Billings, não é (¿), tem a Guarapiranga, cheio de represas. Por que vocês pegaram só a Guarapiranga¿

- E – Na verdade isso aqui (a bandeira) está defasado já...

- A – É, está defasado!

- E – É um lema do movimento, mas já a partir da fundação da Associação é óbvio que a bandeira vai ser ampliada. Então, não é só Guarapiranga, mas do Sistema Billings-Guarapiranga.

- A – Sistema Billings e aí, a Guarapiranga e a Billings e as outras menores que estiverem...

- E – Sim. Os canais...

- Vários interferiram = inteligível.

- D – As duas represas.

- A – Então está respondido. Bom. Vocês estão dizendo aqui dos habitantes humanos, animais e vegetais, defesa das águas e dos habitantes humanos, animais e vegetais de seu entorno. Falando em vegetais, aquela planta aquática que fica sobre a Represa, que tem (ininteligível) na Guarapiranga, aquilo vem de onde¿ Nasce¿ Está forrada a Represa¿ Como chama aquela planta aí¿

- E – São várias lá...

- D – A categoria toda das plantas...

- A - Fala o Vice!

- D - ...são as Macrófitas, uma categoria de plantas chamadas Macrófitas.

- A – Certo.

- D - Essas plantas em pequena quantidade, elas ajudam até a purificar a água, a oxigenar a água, fazem bem para a água.

- A – Então para a água é bom¿

- D - Em pequena quantidade. Não no nível que estão.

- A – Isso vem de onde, Dino¿ Vem de onde¿ Tudo que é lá¿ Aquela planta aquática¿

- D – Isso é alimentado, basicamente, é alimentado pela poluição de esgotos. É isso que alimenta e fazem essa ilha de algas...

- A – Proliferar! Não é¿ Proliferar!

- D – Proliferar. Exatamente. (Es)Tá (bem). As represas estão interligadas. A Billings está ligada com a Guarapiranga pelo canal de Taquacetuba, aqui um pouco antes de Parelheiros. A água do Tietê é jogada para o Pinheiros. A água do Pinheiros é bombeada para a Billings. Às vezes. Então é, por exemplo, a gente fala Bacia...

- A – Correto.

- D - ...das Represas Billings e Guarapiranga. Elas estão interligadas.

- A – E quando a Guarapiranga enche muito, isso é um canal que joga no Pinheiros, não é¿

- D – Exatamente.

- A – E do Pinheiros joga para a Billings!

- D – É.

- A – E da Billings que volta. É feito um arco!

- D - Exatamente, exatamente.

- E – Na verdade, já há alguns anos que não estão jogando mais do Pinheiros para a Billings, por questão de poluição e coisas desse tipo...

- A – Mas aonde vai a água do Rio Pinheiros¿ (ininteligível) ...é não é água¿ É só parar¿

- E – Isso é um Sistema antigo...

- A – É um canal de represa. É um canal represado.

- E – É um canal...

- A – É um canal represado!

- E – É um canal que foi feito em cima do antigo Rio Jurubatuba.

- A – Certo.

- E – Então é isso. Um pouquinho mais para frente tem a Usina de Traição. Aquela Usina de Traição joga água para o Tietê, mas também pode jogar, puxar aqui do Tietê para cá. A função, qual é¿ Exatamente jogar para...

- A – Tanto escoa quanto capta...

- E - Exatamente. Ela recua...

- A – Depende do movimento, da altura do nível!

- E – Dependendo da necessidade inclusive. Quando o rio está muito baixo (Tietê) e aqui (Rio Pinheiros e Guarapiranga) está muito alto, joga tudo para lá (Tietê). Quando, por exemplo, o rio (Tietê) está muito alto, joga tudo para cá (Pinheiros e, antigamente, Represa Billings). Antigamente como é que funcionava¿ A água do Rio Pinheiros era jogada na Represa Billings. Para que¿ Para alimentar lá em baixo, lá em Cubatão, a Usina Henry Borden. Era esse o sistema que funcionava. Caía água da Represa Guarapiranga, jogava no Rio Pinheiros para que fosse jogada na...

- A – Billings!

- E - ...na Billings, porque a Billings é cinco ou sete metros mais alta que a Represa Guarapiranga.

- A – Correto.

- E – E daí ia para Cubatão para alimentar (a Usina). Então, esse era o sistema antigo.

- A – E não vai mais para Cubatão¿

- E – Ainda vai. Ainda funciona. A Usina funciona. Tem duas usinas lá. Tem a Henry Borden e tem uma Usina Subterrânea também. Foi construída há muitos anos atrás. Era a única usina que, aliás, acho que é a única usina que é capaz de agüentar um ataque nuclear. É incrível. É escavada...

- A – Economicamente estas usinas lá em Cubatão que são alimentadas pelas águas da Guarapiranga e Billings...

- E – Hoje não tem mais relevância, em termos, assim, econômicos. Se aproveita (aproveita-se) muito pouco.

- A – Mas vai água!

- E – Ainda vai...

Ininteligível (várias vozes ao mesmo tempo)

- A – Economicamente ainda é importante essa Usina¿

- E – Sim, porque eu acho que economicamente seria muito ruim desativá-las. Mesmo com elas produzindo pouco, estão produzindo alguma coisa.

- A – Que seria alguma coisa assim desumano, não é¿ Tirar água do pessoal de São Paulo e jogar numa usina, não é(¿), porque no caso, de vez em quando, agora não, mas de vez em quando estaria seco toda a Represa e a gente mandando água para Cubatão.

- E – Sim e parece que já foi desativado nessa altura.

- A – Isso é desumano, não é¿

- E – Sim. Agora, o problema central é que construíram, agora, justamente, com esse problema de abastecimento na Represa Guarapiranga, construíram esse Canal de Taquacetuba. Agora, recentemente, água, as águas da Represa Billings estão sendo jogadas na Guarapiranga.

- A – Certo.

- E – O que aconteceu¿ Bem. Muitas dessas macrófitas que provavelmente não proliferavam por aqui (Guarapiranga), mas na Represa Billings sim, então, quer dizer, com esse acesso, modificou primeiro, deve ter modificado, não sou nenhum especialista no assunto, mas deve ter modificado a salinidade da água (da Guarapiranga), a acidez da água e que propiciou exatamente o crescimento dessas macrófitas aqui. Somado ao aumento do esgoto, de ebulição do esgoto, por que¿ A Represa está assoreada (Guarapiranga)...

- A – Perfeito.

- E - ...está assoreada, tem menos água. Ora, se tem menos água, a concentração de esgoto, que só tende a crescer, entende, fica maior. Portanto é um ambiente ideal para (o crescimento das macrófitas)... Paralelamente tem uma outra conseqüência que para nós pescadores é muito boa: a quantidade de peixes aqui na Represa Guarapiranga aumentou...

- A – Importante!

- E – É. Terrivelmente.

- A – Aquele mato, aquele mato sobre a água é importante¿

- E – É importante...

- A – Limpava (ininteligível), limpava...

- D – Não...

- A – Limpar, não, porque (ininteligível).

- D – Em pequena quantidade sim (macrófitas limpam a água quando são em pequena quantidade). Eu queria aproveitar, você falou agora que a Represa está cheia. Sabe que a Represa estar cheia é uma ilusão, já que você olha a Represa do jeito que está e realmente parece que ela encheu, mas lá no meio...

- A – Em relação (ininteligível).

- D - ...lá no meio tem lugar, você olha do jeito que está, lá no meio da Represa tem lugar que não tem meio metro de água.

- A – É sério, é¿

- D – É.

- A – Incrível!

- D – Tem lugar que tem 30 cm...

- A – (Ininteligível).

- D - ...o assoreamento.

- A – O assoreamento!

- D – Realmente ela esta cheia. Parece que ela está cheia, mas aquilo que eu te falei no começo: dos 200 milhões de m3 que ela teria de capacidade de água, que ela teria de capacidade de armazenamento, ela está com a metade. Você pode ver que não existe mais barco grande na Represa Os barcos são veleirinhos, são barcos pequenos. Os clubes em volta da Represa estão tendo um problema muito sério, porque o pessoal está levando o barco embora. Ninguém consegue mais aproveitar a Represa, usar da forma que usava antes...

- A – Então, na verdade, a Represa não está cheia!

- D – Não.

- A – É assoreamento que está...

- D – Exatamente.

- A - ...acontecendo.

- D – Exatamente. É alguma coisa que precisava fazer e logo porque... Por enquanto pode, também não sou nenhum especialista, não sou nem pescador e nem especialista em peixe...

- A – O Eduardo é pescador!

- D – Não. Ele é. Ele é famoso...

- A – Pescador!

- D - ...tem troféu, vara de pesca, tudo isso. É o terror dos peixes da Guarapiranga. Mas, eu acho que essa combinação: assoreamento e o crescimento desordenado de algas, eu acho que logo logo não tem mais peixe nenhum, porque essas algas em quantidade grande, demasiada, como está agora, ela solta uma espécie de acidez na água. Então, se já não está afetando, logo logo...

- A – Vai afetar!

- D - ...vai afetar e vai afetar violentamente.

- A – Os peixinhos, os peixinhos vão morrer todos! Ou a maioria...

- D – Eu sei lá! Está virando um desequilíbrio, sabe, no ecossistema da Represa, não é¿ O correto não é esse. Não sei no que pode acabar. É o que a gente gostaria, sabe, de ter estudos, de ter acesso, que fossem feitos estudos de impacto ambiental, alguma coisa atualizada da situação, do que está acontecendo, porque o que a gente nota, EMAI é a antiga Light, tem uma confusão que um joga para o outro. A Prefeitura diz que o problema da alga, das algas: é da SABESP. A SABESP fala que não. Fala que o problema é da EMAI. A EMAI fala que o problema dela é fazer energia elétrica, ter água para gerar energia elétrica, sabe. Então, não é a qualidade (da água). A SABESP gasta uma fortuna para purificar, para tratar essa água que nós vamos beber. E um fica jogando para o outro. Eu confesso como morador, como simples morador, (que) até hoje não tive uma informação, (de) quem é o culpado e de quem cobrar isso. É um dos motivos (por) que surgiu o Movimento Garça Vermelha...

- A – Foi aí que surgiu o Garça Vermelha!

- D – É. O Garça Vermelha surgiu em virtude desse tipo (de problema), dessa falta de informação para a população. Como morador eu quero saber, meu Deus do céu. Eu moro na beira daquela Represa também há vinte e tantos anos. De repente me falam que vão fazer um parque ali onde moro. E eu fiquei sabendo desse parque vendo o trator chegar e derrubar tudo, aterrar. Aterraram nascentes (de água), derrubaram toda a mata ciliar...

- A – (Ininteligível) não adianta, não é¿

- D – Quer dizer, começaram jogar entulho...

Ininteligível (várias pessoas falando ao mesmo tempo).

- D – ...começaram jogar entulho, saibro...

-.-.-.-.