As Macrófitas da Guarapiranga

Macrófitas invadindo o calçadão do Parque Nove de Julho

Sebastião Pinto Silva

No último dia 30.07.2010 reuniram-se na sede social do Clube Castelo representantes da sociedade civil e autoridades de diversos órgãos públicos para discutir os vários aspectos da anormal quantidade de macrófitas flutuantes na superfície da Represa Guarapiranga que, atualmente, já atinge cerca de vinte e cinco por cento daquele reservatório de água.
A existência de macrófitas nas proporções atuais, não havia, ainda, ocorrido na Guarapiranga. O problema surgiu já há alguns meses e constituiu-se no grande alerta público, feito às autoridades, durante a realização do Abraço Guarapiranga 2010, realizado no dia 30 de maio último, no “Parque Barragem”.
O surgimento daquelas plantas, nas quantidades atualmente observadas, e seu acelerado ritmo de crescimento mostra um desequilíbrio do meio ambiente e indica a presença de depósito na água de substancial quantidade de material orgânico: esgoto. Em decorrência, a situação evidencia o comprometimento da qualidade da água daquele reservatório.
Estas são apenas algumas das razões que justificam a importância da reunião acima referida que foi aberta e conduzida pelo Sr. Valdir Ferreira, Subprefeito da Subprefeitura de Capela do Socorro que convidou para participar da mesa, entre outros, o Presidente do Clube Castelo, como anfitrião; o Vereador Goulart, o Deputado Caruso, o representante da EMAE, o representante da Secretaria do Verde e Meio Ambiente, o representante das associações de esportes náuticos e o Sr. Paulo Massato, Diretor da Diretoria Metropolitana da SABESP.
De início, o Sr. Subprefeito esclareceu que é gasto, anualmente, considerável montante de verba em ações de controle de esgoto e que o volume de despejo de esgoto na Represa Guarapiranga vem diminuindo. Quanto as Macrófitas, salientou que é necessário realizar, logo, estudo referente ao uso de produto químico, que não prejudique a água, para controlar a proliferação das macrófitas, entende que, de pronto, deve ser feita a retirada dessas plantas, arrastando-as e utilizando rede para retirá-las da água, estocando-as, a seguir, em área da Represa denominada Barragem. Ali, o material, depois de seco seria transportado para um aterro sanitário ou para usina de compostagem. Para tanto, até lá, deve ser avaliado se o material recolhido contem metais pesados, como afirmam alguns.
A seguir, o representante das associações de esportes náuticos, após apresentar farta documentação fotográfica registrando a grande amplitude do problema, salientou que o uso de rede para retirada das plantas tem o inconveniente de trazer na rede, junto com as plantas, muitos peixes. Isto pode ser minimizado se a retirada for realizada com esteira mecânica (transporta o material da beira da Represa para o solo ou diretamente para dentro dos caminhões que farão o transporte).
O representante da Secretaria do Meio Ambiente salientou tratar-se de material bastante rico em nutrientes e que por essa razão deve ser destinado às áreas de compostagem. Esta solução foi contestada, por um dos participantes da reunião, com o argumento de que o material tem, sim, metais pesados. Isto ficou, portanto, pendente, aguardando estudos.
A seguir, passada a palavra ao Sr. representante da EMAE, ficamos todos sabendo que a EMAE nada tem a ver com as macrófitas ou outras espécies que ocorrem na Represa, posto que “a EMAE tem por incumbência cuidar da parte patrimonial da área da Represa“.
O Deputado Caruso, a seguir, pediu para que fosse esclarecido “quem” vai fazer a retirada das plantas e quando isso vai começar. O Sr. Subprefeito informou que as ações para remoção do material da água serão realizadas pela Sabesp, cabendo à Subprefeitura da Capela do Socorro fazer a remoção do material após sua secagem. Quanto ao tempo que se levará para concluir a empreitada não é possível, agora, prever-se. Isto dependerá dos resultados das avaliações que serão feitas no decorrer das primeiras semanas de trabalho, esclareceu o representante da Sabesp.
O Vereador Goulart, depois de ouvir algumas ponderações dos participantes da reunião sobre as grandes quantidades de macrófitas que ficarão secando na Barragem, podendo gerar forte cheiro desagradável, decorrente do processo de fermentação, recomendou que a retirada do material fosse realizada em área situada ao lado do terreno existente na Av. Kennedy no qual, recentemente, estava montado um circo. Dali o material seria transportado por caminhões (mesmo sem secagem) para um grande terreno disponível, distante de habitações, localizado em Varginha. Feito assim, não haveria incômodo para ninguém, concluiu o Vereador. Seguiu-se uma discussão sobre o proposto. Uns alertavam para os aspectos referentes ao custo da empreitada, já que o material ainda hidratado teria volume e peso muitas vezes superiores ao do material seco. Outros ponderavam que sequer sabíamos, ainda, se o material posto a secar exalaria, de fato, odor desagradável. Diversas pessoas salientaram que o material não poderia secar por completo às margens da Represa, sob pena do vento levar de volta as sementes para dentro da Represa, pondo, assim, tudo a perder.
O Subprefeito decidiu manter na área da Barragem, mesmo, a operação de retirada e secagem do material, ponderando tratar-se de uma operação em escala sem precedentes e que, portanto, não se conhecia, ainda, todas as suas conseqüências. Por isso, durante as duas primeiras semanas de trabalho seriam feitas todas as avaliações necessárias e adotadas as providências corretivas pertinentes, inclusive adotando as sugestões do Vereador Goulart, no que coubesse.
Em seguida, fazendo uso da palavra, o Sr. Paulo Massato, Diretor da Diretoria Metropolitana da SABESP, fez uma longa exposição sobre o assunto objeto da reunião, cujo resumo encontramos no site da SABESP, publicado dia 29/07/10 (dia anterior ao da reunião), que a seguir transcrevemos:
“A represa Guarapiranga, em São Paulo, vem registrando grande quantidade de plantas aquáticas em sua superfície. Estas plantas são de diferentes espécies e conhecidas cientificamente como macrófitas, justamente por serem de grande porte. A ocorrência não acontece apenas na Guarapiranga e é comum em todos os corpos d’água.
De acordo com o Diretor da Diretoria Metropolitana da Sabesp, Paulo Massato, apesar da grande quantidade na represa, a presença das plantas não interfere na qualidade da água para o consumo humano. Essas plantas não fazem mal nenhum à qualidade da água da represa. Muito pelo contrário. Contribuem para a remoção de eventuais nutrientes que estão na represa. Quando as plantas chegam ao ponto de captação da água, elas podem atrapalhar um pouco a operação da Sabesp, daí surge a necessidade de se fazer uma remoção mecânica dessas macrófitas. Mas salientamos que estas plantas sempre estiveram na represa. Não surgiram espontaneamente; não foi um processo repentino que levou as plantas aquáticas a aparecerem, detalha Massato.
O aumento destas plantas na Guarapiranga se deve às fortes chuvas de dezembro de 2009 e em janeiro deste ano. Neste período, o nível das águas subiu em torno de dois metros, retirando as plantas que estavam nas margens e conduzindo-as para um ponto central da represa.
É preciso distinguir as plantas aquáticas das algas. As algas são microscópicas. Elas não ficam na superfície. Muitas vezes elas ficam 15 centímetros abaixo da superfície. São de pequenas dimensões e somente com uma rede muito fina é possível retê-las.
A remoção das plantas aquáticas dos corpos d’àgua não é um processo simples. Segundo Massato, nos Estados Unidos a proliferação dessas plantas macrófitas é relativamente comum, principalmente na costa leste, em lagos com muita matéria orgânica. Lá, assim como na Europa, são usados herbicidas para o controle dessas plantas, que crescem a uma taxa de 3% ao mês. Infelizmente, no Brasil, nós não temos esses herbicidas, uma vez que não há aprovação do IBAMA, salienta o Diretor.
No caso da Guarapiranga, a Sabesp, que é usuária da água da represa, realizará, em conjunto com a prefeitura de São Paulo, por meio da subprefeitura, com os clubes de esportes náuticos e com o Departamento de Águas e Energia Elétrica, uma força- tarefa para a remoção das plantas mecanicamente por meio de redes, barcos e tratores.
Após a retirada, as plantas serão levadas a um aterro ou serão utilizadas na compostagem.”
Na reunião em tela o Sr. Massato informou, também, que a Sabesp já dispõe de verba no montante de um milhão e meio de Reais para realizar estudos sobre as macrófitas e efetuar ações de combate àquelas plantas na Represa de Guarapiranga. Respondendo ao que foi indagado por um dos participantes da reunião, o representante da Sabesp deixou claro que esses custos não serão repassados ao consumidor, posto que, em consulta realizada pela Sabesp, a Agência controladora do setor não autorizou esse repasse. Salientou, por fim, que a presença de despejo de esgoto dentro da Represa de Guarapiranga é uma das causas da proliferação das macrófitas, mas não é a causa principal.
A seguir, várias pessoas inscritas usaram a palavra para formular alertas sobre o processo de secagem das plantas retiradas da Represa, de forma a não deixar que as sementes retornem para a água; manifestaram preocupação com o lixo, que além do esgoto, é jogado na Represa. Na seqüência, fez uso da palavra um dos participantes da reunião que estava inscrito, o Sr. Mauro Scarpinatti, representando, entre outras, a entidade socioambiental “DE OLHO NOS MANANCIAIS”.
O Sr. Mauro iniciou sua fala parabenizando o Subprefeito Valdir Ferreira pela iniciativa do evento e declarou-se bastante surpreso com a presença, ali, da Sabesp. Disse que nos contatos que manteve com o Diretor Paulo Massato, para tratar do assunto referente ao combate às macrófitas da Guarapiranga, o Sr. Paulo sempre manteve a firme posição de que a Sabesp nada tinha a ver com o assunto, não era administradora da Represa Guarapiranga e não competia a ela qualquer ação sobre o assunto. Daí estar surpreendido com o discurso que acabara de ouvir daquele Diretor, disse o Sr. Mauro. Prosseguiu, dirigindo-se ao Sr. Paulo, afirmando que a existência de macrófitas é um dos indicadores da qualidade da água, posto tratar-se de planta que se nutre de sedimentos orgânicos e que o despejo de esgoto na Guarapiranga é, sim, fator importante na proliferação das referidas plantas e que a Sabesp é a grande poluidora da Represa Guarapiranga, basta ver, por exemplo, o esgoto que corre para a Represa no córrego São José. Disse o Sr. Mauro que, novamente, vamos fazer uma “maquiagem”, sem atacar as causas do problema, que são tantas a atingir a Bacia da Guarapiranga, tais como: a devastação provocada pela construção do Rodoanel, a existência das habitações irregulares e o acelerado processo de urbanização sem a necessária adequação de infra estrutura. Ao finalizar, disse o Sr. Mauro que felizmente o IBAMA está barrando o herbicida da MONSANTO; não fosse isso já estariam jogando esse produto químico dentro da Represa Guarapiranga.
A seguir o Sr. Paulo Massato, usando a palavra, respondeu: a Sabesp não é responsável pelo combate às macrófitas, “só estamos aqui, agora, em decorrência de uma orientação de governo”; estamos cumprindo essa orientação; faremos a remoção das macrófitas da Represa Guarapiranga; as macrófitas não prejudicam a qualidade da água; só a ação de retirada mecânica daquelas plantas não resolve o problema, é necessário fazer o controle com utilização de herbicidas, além de limpeza das margens da Represa e solução para o problema da ocupação de suas margens.
O Sr. Valdir Ferreira, na seqüência, enfatizou a necessidade de fixar-se uma data para o inicio da operação de retirada das macrófitas. Após consulta aos representantes dos Órgãos envolvidos, ficou decidido que o início daquela operação seria na próxima semana, no dia 03 ou 04/08/2010. Antes de dar por encerrada a reunião, informou que outra seria convocada para daqui um mês, objetivando avaliar os resultados dos trabalhos realizados.
Representando a Associação Movimento Garça Vermelha estiveram presentes à reunião em tela os Srs. Dino Mottinelli e Sebastião Pinto Silva.

REFERÊNCIA:

Sebastião Silva é Sociólogo formado pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e Vice Presidente Administrativo Adjunto da Associação Movimento Garça Vermelha – MOGAVE.

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