Carta Aberta ao Vereador Antônio Goulart

Em defesa da magnífica Garça Cinza do Parque Nove de Julho

Com muita preocupação e, impossível não expressar, com uma certa decepção e um sentimento de pessimismo, soubemos da intenção do prezado vereador, e mais o Sr. Subprefeito da Capela do Socorro, Sr. Valdir Ferreira, de transformar a Represa Guarapiranga em um “grande pólo turístico nacional”.

Sem que houvesse uma audiência realmente pública e ampla perante a população de São Paulo, principalmente com a participação de moradores que habitam os entornos da represa e que atuam, diariamente, na sua proteção, fomos alertados sobre a realização de reuniões, com a sua presença e o seu estímulo declarado, e até mesmo com a presença de representantes do BNDES, visando criar-se uma “infraestrutura” para transformar-se a Represa Guarapiranga em um “grande pólo turístico nacional”.

Até então restrito a círculos de pessoas mais conscientizadas sobre o papel dessa represa e a necessidade permanente de preservá-la, temos visto, com uma grande satisfação, aumentar o tamanho desse público, sendo certo hoje afirmar que o manancial Guarapiranga tornou-se alvo de preocupação quanto à sua manutenção, não apenas para a geração presente, como, principalmente, para as gerações futuras, diante da real possibilidade de escassez de água.

A preocupação hoje desse público mais conscientizado, felizmente em crescimento, estende-se também ao estudo das causas que levaram nossos principais mananciais, tanto o Guarapiranga, como a Billings (e nesse caso, se sobressai, infelizmente, mais a Billings) , ao ponto evidente de muito abandono, principalmente por parte do Poder Público.

Essas represas, e os córregos que as alimentam, principalmente nas últimas 3 (décadas), tornaram-se alvo fácil de depredação e destruição de seu meio ambiente, com visível e perceptível reflexo na qualidade da água que nela é armazenada e que serve diariamente, apenas da Guarapiranga, quase 4 milhões de pessoas na cidade de São Paulo.

E mais ainda se fez presente essa degradação, com as ocupações irregulares de seus entornos e proximidades, resultados, dentre outros, da inexistência de uma política habitacional; da baixa renda dos trabalhadores; da falta de fiscalização; do descaso dos governantes, dos órgãos públicos em geral e das sucessivas administrações regionais locais; do oportunismo irresponsável de especuladores imobiliários; do foco de políticas mais voltadas para a obtenção imediata e irresponsável de votos; enfim, tudo isso, e muito mais, deram origem e incentivaram a ocupação irregular e desenfreada nas regiões das represas e dos córregos.

A principal função da Guarapiranga, protegida por lei de forma permanente, é a de armazenar água para ser levada aos lares de quase 4 milhões de pessoas diariamente, como já ressaltado, sendo o turismo e o lazer atividades que, obviamente, podem ser oferecidas pela represas, e a lei de mananciais até permite isso com restrições, mas de forma secundária e com sustentabilidade, e com o devido licenciamento ambiental, pois atividades turísticas e de lazer também interferem no ambiente ecológico do manancial.

Diferentemente de um mar, cuja finalidade não é reservar água para consumo, o que abre um leque maior de uso de sua água e de sua orla para turismo e lazer (mas exigindo-se mesmo assim o cumprimento das leis ambientais), um manancial como a Guarapiranga tem como objetivo primeiro e distante dos demais objetivos, a guarda de água, principalmente para beber, seja para a geração presente, seja para as futuras (isso está na lei).

Infelizmente temos visto, e daí nosso temor com atitudes tão rompantes como a de transformar a Guarapiranga em “polo turístico nacional”, atitudes de nossos governantes e políticos que mais se preocupam com obras de destaque, visuais (e mesmo assim nem sempre a estética e o bom gosto são levados em consideração), e ferindo profundamente o meio ambiente e o bolso do contribuinte, como é o caso presente da construção de uma grade em cima da mata ciliar na orla da represa no Jardim Sertãozinho e adjacências, um dos entornos mais preservados (pelos moradores) e bonitos da represa.

Pois ali, sem qualquer aviso e qualquer conversa prévia com os moradores locais (em uma atitude considerada desrespeitosa), a Subprefeitura da Capela do Socorro, na figura do Sr. Subprefeito Sr. Valdir Ferreira, construiu um gradil com material de má qualidade, de eficácia altamente discutível e sem dutos para drenagem da água pluvial e passagem de pequenos animais, bem em cima da mata ciliar nativa local e de nascentes d’água, com o despejo de saibro (impermeável), entulho e até lixo, e a poucos metros das águas da represa e sem respeito à flora e à fauna locais.

Tudo no âmbito do chamado Parque 9 de Julho que, embora chamado de parque linear, infringe, pelo que estamos assistindo, a lei do Plano Diretor, ao não respeitar os critérios técnicos legais exigidos para um parque, a começar pelo respeito ao verde e à características locais e o respeito à permeabilização do solo.

E o Sr. Subprefeito ainda quer construir naquele local uma “rua” bem na beira da represa, com tudo o que uma rua pode representar, mesmo que para o futuro, de poluição e destruição do meio ambiente. E por essa atitude do Sr. Subprefeito, tendo sido por ele ignorados em suas legítimas reivindicações, encaminharam os moradores uma representação ao Ministério Público, esperando dessa respeitável e responsável instituição que interceda para que a Guarapiranga, naquele local, pelo menos, não seja vítima de atitudes como essa.

É esse o cenário que atemoriza as pessoas de bom senso, quando governantes e políticos mais se preocupam com obras mais visuais e superficiais, enquanto que a cidade de São Paulo, e prova disso são as milhares de pessoas com baixa renda, principalmente, que estão perdendo suas “casas”, seus “bens” e até entes queridos, em lamentáveis e incessantes alagamentos e deslizamentos que se repetem todos os anos, muitas vezes por falta de uma responsável e ampla (não apenas maquiagem) Política Habitacional que dormita nas gavetas de prefeitos e edis, embora prevista nos Planos Diretores que também se sucedem mais ao sabor de interesses localizados.

Lamentamos se, talvez, as letras estejam um pouco carregadas, prezado Vereador Antonio Goulart, mas isso é fruto do imenso receio e apreensão que nos toma quando vemos nossos políticos, principalmente os locais e de longa tradição, lançarem projetos, até com o beneplácito do BNDES, e sem ouvir os moradores e contribuintes, para a transformação da Represa Guarapiranga no “...grande polo turístico nacional...”

Aproveitamos a oportunidade para solicitar que o prezado Vereador acesse o blog do Movimento Garça Vermelha, criado em outubro de 2009 para defender a Guarapiranga, principalmente com relação aos desrespeitos à lei na construção do chamado Parque 9 de julho, e que acesse também nossos vídeos, considerando que o Movimento Garça Vermelha resolveu, diante da situação, registrar, fotografar, filmar e tornar público, além de encaminhar ao Ministério Público, os atos que considera lesivos ao meio ambiente da Represa Guarapiranga.


Receba os nossos respeitos.

MOVIMENTO GARÇA VERMELHA
(Guarapiranga = Garça Vermelha, na língua Tupi)

Fevereiro de 2010

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